domingo, 29 de novembro de 2009

Encontro de formação GESTAR Bahia- UnB/MEC





Filme "Narradores de Javé"

SEQUÊNCIA DIDÁTICA a partir do filme “Narradores de Javé”

Tema: Linguagem oral e escrita e o gênero narrativo no filme “Narradores de Javé”.

Justificativa:

Considerando a necessidade de refletir sobre o uso da língua oral e a língua escrita na construção da história de um povo, serão necessários questionamentos sobre letramento e o gênero narrativo.

Objetivo Geral:

Reconhecer a importância do uso da Língua em suas várias modalidades e gêneros para a construção cultural e histórica de um povo.

Objetivo específico:

Discutir as diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita;

Valorizar as respeitar a cultura e a oralidade de cada povo ou comunidade;

Enfatizar a importância dos registros escritos na construção da história;

Reconhecer as características do texto narrativo;

Produzir textos narrativos nos gêneros cordel, conto, crônica e mito;

Metodologia:

1° momento (4 aulas)

  1. Levantamento dos conhecimentos prévios através de questionamentos como: o que é um narrador? Qual sua importância na apresentação de uma história? Existe diferença/semelhança entre história contada oralmente e outra contada por escrito?

Qual a importância da escrita para a humanidade?

  1. Apresentação do filme “Os narradores de Javé”.
  2. Discussão, em grupos, sobre o filme apresentado buscando analisar o tema, a linguagem empregada, o contexto sócio-cultural, a problemática abordada, as personagens, o tempo, o espaço, a importância da linguagem oral e escrita no enredo.
  3. Socialização das análises dos grupos.

2° momento: (4 aulas)

  1. Leitura, em grupos, de textos narrativos do livro didático de história, cordel, mito, conto.
  2. Produção de textos individuais.
  3. Socialização dos textos produzidos através de apresentação oral.
  4. Sistematização pelo professor com apresentação de slides contendo as características do texto narrativo e da linguagem oral e da linguagem escrita.
  5. Reescrita em duplas dos textos produzidos e montagem de um mural de textos.

Recursos:

TV pen-drive , filme “Narradores de Javé, textos xerocopiados, livro didático de História, papel flip-chart, pincel, lápis, caneta, cola.

Avaliação:

Envolvimento e interesse na realização das atividades orais e escritas.

Nível de desempenho na produção/reescrita de textos.

Auto-avaliação do processo ensino- aprendizagem

Memorial das minhas leituras

Nasci no dia 05 de junho de 1963. Tempos de grandes conflitos políticos, início de um longo período de ditadura militar no Brasil. Época de mudanças de comportamentos ao som dos Beatles e rock and roll. Nada disso, porém, fazia parte de meu “mundinho” tão distante das grandes cidades com suas efervescências políticas e sociais.

Num pequeno vale entre verdejantes montanhas no município de Itanhém, extremo sul da Bahia, comecei a ler o mundo que me cercava. Dei os primeiros passos, aprendi as primeiras palavras, construí frases, textos... Cresci em meio à natureza e aprendi a ler o mundo através dela, pois escassos eram os livros naquele rincão. Meus pais mal tinham sido alfabetizados e raramente via-se algo escrito em nossa casa e na vizinhança. No entanto, as letras me encantavam. Queria decifrá-las a ponto de aos quatro anos de idade me aproximar perigosamente de uma serpente venenosa (jararaca bico de jaca, como é conhecida naquela região) que passava preguiçosamente pelo quintal, julgando que as manchas coloridas de seu couro fossem letras e que pudessem formar alguma palavra.

Assim, ansiosa por aprender, recebi aos cinco anos a grande notícia do estabelecimento de uma escola na nossa fazenda, pois minha irmã completara sete anos e já era tempo de estudar. Meus pais, embora tivessem pouca escolaridade, sabia a importância da educação e procurou estabelecer em suas terras uma escola municipal que atendesse as crianças da região, além de sua filha. Era uma escolinha multisseriada que atendia desde a alfabetização até ao terceiro ano primário, num único horário e numa única sala. Com poucos recursos disponíveis, a professora leiga dividia seu saber com as crianças quase de forma mágica. Como ela conseguia atender a tantas diferentes necessidades ao mesmo tempo e com tão pouco recursos?!

Clandestina da nave-escola e o Primeiro Grau (Ensino Fundamental)

No dia da inauguração da escola havia festa em nossos corações. Que expectativa! Mamãe comprou lápis coloridos, cadernos, o ABC. Tudo parecia perfeito até descobrir que eu não podia fazer parte daquela nave. Era nova demais (5 anos) e a escola só aceitava crianças acima de 7 anos. Chorei, insisti e acabaram me deixando ficar de forma clandestina, pois pensavam que logo me cansaria da novidade e acabaria por desistir. Então, por não estar matriculada, pouca atenção me era dada quanto às atividades de sala de aula. Entretanto, de longe, observando como os outros aprendiam, ia construindo minhas leituras. Contrariando a todos, não perdia um só dia de aula, mesmo quando estava doente insistia em ir. Fui alfabetizada sem muito acompanhamento, desenvolvi minha capacidade imaginativa e meu raciocínio lógico, mas tive alguns prejuízos no desenvolvimento da minha coordenação motora e algumas dificuldades de ortografia que tem me causado alguns transtornos.

Assim, aprendi a ler o mundo e a ler as palavras. O ABC e a minha primeira Cartilha me ajudaram a desvendar o mistério das letras. Um novo mundo começou a se abrir para mim. Continuei a estudar nessa escolinha até o 3º ano primário. Meu mundo era conhecido, confortável, me sentia segura. No entanto, ao chegar ao 4º ano tudo mudou: fui estudar num grupo escolar em Ibirajá, a vila próxima à fazenda, porque oferecia mais recursos. Como foi difícil encarar o novo! Quantos rostos, quantas vozes... Sentia-me acuada, assustada, insegura. E isso me fez calar por um tempo. Precisei de um ano para me adaptar.

Já adaptada ao novo ambiente, iniciei o Ginásio cheio de expectativa e medo do novo desafio. Porém a insegurança foi desaparecendo à medida que ia adquirindo novos conhecimentos. Como era bom aprender! Sentia-me orgulhosa de mim mesma. Embora a escola não contasse com nenhuma biblioteca, e nem mesmo usasse livros didáticos, eu absorvia o máximo do que era ensinado pelos nossos valorosos professores que, incansáveis, se utilizavam de pequenas estratégias como esquemas, apontamentos, questionários, atividades passadas no quadro de giz ou por ditados que mantínhamos em nossos cadernos como jóias preciosas. Participava, também, das festas escolares que costumava envolver toda a comunidade. Encenação era minha atividade predileta.

Na escola não se falava muito da importância da leitura. Talvez pelo fato de pertencer a uma comunidade rural onde os livros não tinham presença marcante. No entanto, a despeito da escola, aprendi a amar a leitura e não perdia nenhuma oportunidade: gibis, fotonovelas, revistas, livrinhos de faroeste, literatura de cordel, a coleção Sabrina, tudo que me viesse à mão era lido com entusiasmo. Assim fui me aventurando no mundo dos livros. A partir da 8ª série já arriscava vôos mais ousados com Fernão Capelo Gaivota, de Gibram; compreendi o “jogo do contente” com Pollianna Menina e com o Pequeno Príncipe a cativar e me deixar cativar. Também viajei por mundos desconhecidos e ampliei meu “mundinho” com Best Sellers como Aeroporto, um livro enorme que me apresentou o funcionamento de um aeroporto e do sistema de aviação numa história envolvente e cheia de suspense. Imagine o que isso significava para uma menina que sequer tinha visto um avião de perto! Papillon, Inferno na Torre, O Incrível Congresso de Futurologia, A Moça e Seus Problemas são alguns dos livros que, apesar de não me lembrar de seus autores, guardo na memória as suas fascinantes histórias e lhes sou grata porque ajudaram a ampliar meus horizontes, a acreditar que podia ir além da cerca.

Ampliando Horizontes

O Segundo Grau (Ensino Médio) exigiu que eu saísse de Ibirajá em busca de maiores recursos educacionais, já que lá só existia o Primeiro Grau (Ensino Fundamental). Assim,em 1979, mudei-me para Teixeira de Freitas, uma vila próxima, que estava em crescimento acelerado e já oferecia melhores recursos. Fui matriculada no Centro Educacional professor Galvão, e após o 1° ano Básico, fiz o Curso Magistério. Mas como Fernão Capelo Gaivota, não me satisfazia apenas com os peixes da praia, logo busquei o curso Superior. Embora pareça hoje coisa comum, naquela época em que na minha região pouco se falava em faculdade, esse era um salto enorme, e quando passei no vestibular para o Curso de Letras Vernáculas (1983) me senti uma vencedora.

Na faculdade tudo me encantava: Latim, Literatura Portuguesa e Brasileira, e tantos outros conhecimentos. Bebia cada porção com leveza e sabor, embora a faculdade, por se tratar apenas de um núcleo de extensão, não oferecesse grandes porções, pois carecia de recursos básicos como uma biblioteca. Porém, como disse Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora não espera acontecer”, fiz o que me veio à mão para fazer da melhor forma possível, conforme o conselho bíblico. Então aprendi a ler o mundo com maior criticidade. Com Bernardo Guimarães a realidade dura das vidas secas, e com Iracema de Jose de Alencar a doçura e o amor. Aprendi, também, com Capitu a dureza do ciúme e do ódio. Pude navegar por mares distantes com Camões e ainda sorver preciosas taças da poesia de Gonçalves Dias, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Drummond e tantos outros.

Nova fase da minha vida

Após a conclusão do curso de Letras (licenciatura curta), dediquei cinco anos de minha exclusivamente à família. Casei-me em 84 e em 90 já tinha meus três filhos. Esse foi um período de ganhos e percas: ganhei na educação de meus filhos e no afeto dedicado a eles e ao meu marido, as razões da minha vida, mas perdi um pouco o desejo de estudar, de crescer. Estava acomodada a ponto de não me aventurar mais no mundo da leitura e do conhecimento, pois me envolvia tanto com os afazeres domésticos e com as crianças que sequer pagava um livro para ler, senão os de histórias infantis. Percebi que minha luz estava se apagando. Então, 1991, retorno aos meus estudos (plenificação do curso de Letras pela UNEB) em uma turma especial formada pelos egressos do curso de licenciatura curta. No mesmo ano, após concurso público, retorno à regência de classe como professora de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª série na Escola Estadual Ângelo Magalhães, na qual estive servindo até julho de 2009.

Os primeiros anos desse período foram difíceis, pois tinha de lidar com a falta de experiência como professora, além de conciliar a faculdade e a minha função de e mãe de três crianças pequenas. Ufa! Foi um desafio e tanto. Não sei com consegui.

O mais incrível é que apesar das noites perdidas, das lágrimas derramadas, dos sacrifícios feitos, sentia-me mais realizada, mais viva, afinal não nasci para ser espectadora da vida. Assim, ao final dessa etapa da faculdade me senti mais uma vez vitoriosa. Conheci mais de Paulo Freire e de sua Pedagogia da Autonomia, estudei pela primeira vez Lingüística e pude perceber a importância dessa ciência para minha prática em sala de aula como professora de língua materna; questionei o ensino da gramática com Perine, Magda Soares, Geraldi e tantos outros. Acredito que tenha contribuído com o ensino de Língua Portuguesa, pois sempre busquei aplicar o que aprendia com esses mestres.

Este foi um período muito significativo de minha vida, porque percebi que minha força e minhas vitórias vinham do Senhor. Então desejei conhecê-Lo melhor através da leitura da Bíblia e de livros cristãos. Afinal conhecer a Deus e a Sua vontade deve ser a prioridade de todo ser humano. Como eu poderia dedicar tanto tempo aos estudos de mestres humanos e ter tão pouco conhecimento do Mestre Jesus?!

Aprendi a confiar no Senhor e a amá-lo cada vez mais. A Bíblia passou a fazer parte de minhas leituras de forma mais efetiva e sinto que, além do crescimento intelectual, estou crescendo espiritualmente e isto me faz sentir mais plenamente realizada.

Em relação ao anos que fui professora de Ensino Fundamental, precisei enfrentar muitos conflitos; houve momentos de frustração, mas principalmente de superação e alegria pelo carinho recebido de meus alunos. Marquei, certamente, a vida deles (espero que de forma positiva), mas também suas marcas ficaram em mim, pois quem ensina também aprende, e eu aprendi muito com eles.

Busquei sempre aprimorar minha prática pedagógica através de leituras, curso de formação continuada e encontros que proporcionavam crescimento profissional. Em 2004 conclui o Curso de Pós- Graduação Lato-Sensu em Administração Educacional e em 2007, o de Literatura Brasileira.

Nos últimos dois anos, buscando novas experiências profissionais, assumi a vice-direção da escola em que fui professora por mais de 18 anos e, agora, no segundo semestre de 2009, aceitando participar do Projeto GESTAR como professora-formadora, desejo ampliar meus conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento da Educação Brasileira neste tempo de tantas mudanças e de tão grandes desafios.